Nos últimos anos, a Microsoft tentou transformar o Xbox em algo muito maior do que apenas um console. A ideia era criar um serviço de assinatura de jogos, o famoso Game Pass, que funcionasse como a "Netflix dos games".
O plano parecia ousado e moderno. Mas, segundo especialistas, a empresa pode ter apostado no cavalo errado — e está pagando caro por isso agora.
Tudo começou lá em 2017, quando o próprio Satya Nadella, CEO da Microsoft, disse aos investidores que queria transformar o mercado de games com um modelo de assinatura.
O Game Pass já existia, mas a fala dele mostrou que essa seria a grande aposta da empresa para o futuro dos jogos. Para atrair mais jogadores pro Game Pass, a Microsoft começou a comprar vários estúdios de games.
Foram nomes como Ninja Theory, Playground Games, Obsidian, Double Fine, entre outros. A ideia era que todos os jogos desses estúdios sairiam direto no Game Pass no dia do lançamento, o que seria um ótimo negócio para quem assinasse o serviço.
Mas isso ainda não era o bastante. A empresa queria dominar o mercado e decidiu abrir a carteira de verdade. Em 2020 e 2022, ela comprou dois gigantes: a Bethesda (dona de franquias como Fallout, DOOM e The Elder Scrolls) e a Activision Blizzard (responsável por Call of Duty, Warcraft, Diablo, StarCraft e mais).
Essas compras juntas custaram mais de US$ 76 bilhões, um valor histórico. Logo ficou evidente que manter essas franquias exclusivas do Xbox seria um tiro no pé.
Afinal, a maioria dos jogadores estão no PlayStation e até no Nintendo Switch. Deixar esses títulos fora dessas plataformas significaria perder muito dinheiro.
Foi aí que a Microsoft decidiu mudar a estratégia e liberar alguns desses jogos para outras plataformas. Essa mudança irritou muitos fãs do Xbox, que esperavam exclusividade. Mas, do ponto de vista de negócios, era algo inevitável.
Crescimento travado e mudanças forçadas
O maior problema é que, mesmo com tantos investimentos, o Game Pass não cresceu como a Microsoft esperava. No Xbox, o número de assinantes meio que estagnou.
No PC, o serviço até cresce, mas devagar. E o tal do jogo na nuvem, que muitos diziam que seria o futuro, ainda não decolou. O analista Rhys Elliott, especialista de mercado da Alinea, explicou que esse tipo de assinatura pode não ser ideal para o mundo dos games.
Ele lembra que, durante a pandemia, muita gente ficou em casa jogando e investindo em entretenimento digital. Os juros estavam baixos, o dinheiro rodava fácil, e parecia que o crescimento não teria fim.
Só que agora o cenário mudou. A inflação está alta, o dinheiro está mais caro, o custo de vida subiu, e várias empresas estão tendo que cortar gastos — incluindo demitir funcionários.
Por que o modelo de assinatura não pegou?
O grande ponto é que jogar não é como assistir séries ou ouvir música. Uma pessoa pode ouvir centenas de músicas no Spotify ou maratonar várias séries na Netflix num único mês.
Mas jogar leva tempo. Mesmo quem ama videogame só consegue terminar alguns poucos títulos por mês. Por isso, um serviço que oferece "milhares de jogos" não faz tanto sentido para a maioria das pessoas.
Tem gente que joga só os games grátis. Outros preferem comprar um ou dois jogos por ano, mas que sejam realmente bons. Ou seja, o Game Pass só vale mesmo para os jogadores mais hardcore.
Outro problema é lançar jogos novos direto no Game Pass que pode ser bom para o público, mas atrapalha as vendas. Isso enfraqueceu a própria base de negócios do Xbox e forçou a empresa a repensar tudo.
Agora, parece que o futuro do Xbox é se tornar uma editora de jogos de terceiros — ou seja, fazer e vender jogos para todas as plataformas, não só para o próprio console.

O Xbox virou uma editora gigante — mas com identidade em crise
Com as compras da Bethesda e da Activision Blizzard, o Xbox virou um gigante dos games. Tem no catálogo nomes pesados como Minecraft, Call of Duty, Fallout e muitos outros.
Mas a empresa está num momento confuso entre ser uma plataforma (como o PlayStation) e ser uma publicadora que lança jogos em todo lugar.
E não dá pra ignorar que tudo isso teve um preço alto, demissões em massa. O Xbox de antigamente está sumindo, e muita gente perdeu o emprego nesse processo.
O Game Pass ainda existe, mas está longe de ser o sucesso que a Microsoft imaginava. Tem muito jogo no mercado, e muitos deles continuam recebendo atualizações por anos.
Isso rouba a atenção dos lançamentos. Hoje, o que importa mais é qualidade, não quantidade. E aí, a Microsoft ainda não mostrou a que veio. Poucos jogos realmente marcantes foram lançados com o selo Xbox.
Isso não quer dizer que o Xbox morreu. Mas aquele Xbox focado só em console e Game Pass, como foi nos últimos anos, está ficando para trás.
Phil Spencer, o chefão da divisão de jogos da Microsoft e defensor ferrenho do Game Pass, continua no cargo, mesmo com rumores de que ele poderia sair.
Agora, o desafio da Microsoft é descobrir qual será o verdadeiro papel do Xbox no futuro: console, serviço ou publicadora? Só o tempo dirá agora.