Nos últimos meses, o clima dentro da divisão de jogos da Microsoft, principalmente entre os desenvolvedores da Xbox, tem sido de muita tensão e insegurança. E isso não é por acaso.
Uma nova leva de demissões em massa atingiu várias equipes da empresa, cortando centenas de profissionais e levantando uma dúvida sobre se a inteligência artificial está começando a tomar o lugar de quem trabalha com desenvolvimento de jogos.
Segundo uma reportagem do site Engadget, diversas áreas foram atingidas pelas demissões. A equipe responsável pelo reboot do clássico Perfect Dark, chamada The Initiative, simplesmente foi encerrada.
O novo jogo online da ZeniMax, conhecido como Project Blackbird, foi cancelado antes mesmo de ser lançado, e o fundador do estúdio também deixou o cargo.
Outro projeto promissor, Everwild, da Rare, teve o mesmo destino — cancelado — e um dos veteranos mais respeitados da empresa, Gregg Mayles, saiu da equipe. A Turn 10, estúdio conhecido pelo Forza Motorsport, também perdeu a maioria dos seus funcionários.
Mas a coisa não para por aí. A 343 Industries, estúdio responsável pela famosa franquia Halo, também foi afetada. Cinco desenvolvedores foram desligados, e fontes internas dizem que o futuro da franquia não parece nada promissor.
Um dos funcionários, que preferiu não se identificar, compartilhou sua opinião sobre o atual momento da empresa com algumas fontes do setor de jogos.
Segundo ele, o CEO da Microsoft Gaming, Phil Spencer, enviou um e-mail dizendo que a Xbox teve seu ano mais lucrativo da história — isso logo após anunciar as demissões. A mensagem causou revolta:
"Fiquei realmente irritado com o e-mail do Phil. Ele começou dizendo que esse foi o ano mais lucrativo de todos para a Xbox, e na mesma hora anunciou cortes. Não entendi qual parte disso a gente deveria se orgulhar."
Outro ponto que gerou desconforto foi a mudança na forma de trabalho da 343 Industries. Agora, parte do desenvolvimento dos jogos de Halo está sendo terceirizada para estúdios parceiros na Europa e nos Estados Unidos. Segundo a fonte, essa decisão aumentou o desperdício de tempo e recursos:
"A Xbox, de forma geral, está anos atrás do que se espera na área de desenvolvimento de jogos. Isso só gera mais retrabalho e atrasa tudo."
Mas talvez a revelação mais preocupante seja outra. De acordo com esse mesmo desenvolvedor, a Microsoft estaria tentando substituir o máximo de trabalhadores humanos por agentes de inteligência artificial — um movimento que levanta sérias questões éticas e sociais:
"Eles estão fazendo de tudo para trocar o máximo de empregos por IA."
Essa informação, apesar de ainda não confirmada oficialmente, liga o alerta. A Microsoft realmente tem investido pesado em inteligência artificial nos últimos anos, principalmente com a parceria com a OpenAI.
Mas a substituição direta de profissionais por IA em áreas criativas, como o desenvolvimento de jogos, acende um sinal vermelho.
Afinal, por mais avançada que uma tecnologia seja, será que ela consegue mesmo substituir a criatividade, o olhar crítico e a sensibilidade humana que são essenciais na criação de um bom jogo?
Além disso, o desenvolvedor também comentou sobre a baixa qualidade do que está sendo produzido atualmente na franquia Halo. Ele disse que a maioria da equipe não está satisfeita com os resultados:
"Ninguém está feliz com a qualidade do que estamos criando. O clima é de tensão o tempo todo, com discursos motivacionais para tentar manter o pessoal animado para entregar o produto."
Recentemente, a 343 Industries anunciou que vai revelar seu próximo projeto durante o Halo World Championship 2025, marcado para outubro. Mas, após a recepção morna de Halo Infinite, a equipe está sob grande pressão.
Se o novo título também decepcionar, a empresa corre o risco de passar pelo mesmo que estúdios como Turn 10 ou The Initiative, que praticamente deixaram de existir após as últimas avaliações internas da Microsoft.
Pode parecer que tudo isso só afeta quem trabalha dentro da Microsoft, mas não é bem assim. Quando uma empresa decide cortar profissionais experientes e apostar em soluções automatizadas, a qualidade dos jogos que chegam até o público final pode cair — e muito.
Além disso, o uso exagerado da inteligência artificial para reduzir custos pode tornar os jogos mais genéricos, sem alma, repetitivos e com menos inovação.
Jogos não são apenas produtos. Eles são experiências, histórias, arte. E para criar algo memorável, é preciso gente por trás — pessoas com paixão, talento, criatividade e dedicação.
A substituição massiva por IA pode até ser mais barata, mas será que vale a pena se o resultado final for um jogo sem graça? É importante que nós, jogadores e consumidoras e consumidores, fiquemos atentos a essas mudanças.
Apoiar jogos que valorizam o trabalho humano, cobrar transparência das empresas e exigir produtos com mais qualidade e menos automatismo são atitudes que ajudam a manter viva a essência dos games que a gente ama.