Os cientistas do projeto Event Horizon Telescope (EHT) divulgaram a primeira imagem capturada de um gigantesco buraco negro localizado no centro de nossa galáxia, a Via Láctea.
Essa mesma equipe já havia apresentado a primeira imagem tirada de um buraco negro fotografado na galáxia Messier 87 (M87) localizado a 55 milhões de anos-luz da Terra em 2019.
Agora, os cientistas conseguiram captar uma imagem de um buraco negro supermassivo chamado Sagitário A*, ou Sgr A*, localizado a 26 mil anos-luz da Terra, uma distância relativamente perto do nosso planeta.
As imagens obtidas pelos pesquisadores do projeto EHT ajudaram a confirmar a forma circular desses objetos e a reunir mais evidências que comprovam ainda mais a teoria da relatividade geral de Albert Einstein.
De acordo com os pesquisadores, o buraco negro Sagitário A* possui cerca de 4 milhões de vezes a massa do nosso Sol e é a primeira vez que se registra uma imagem direta de sua área central escura, também chamada de "sombra".
Os pesquisadores ainda afirmam quem o Sagitário A* existe há décadas no centro de nossa galáxia e só foi possível identificá-lo com base no movimento dos objetos ao seu redor.
"Até agora, não tínhamos a imagem direta confirmando que Sgr A* era de fato um buraco negro", disse Feryal Özel, astrônomo da Universidade do Arizona e membro do EHT.
"Esta imagem mostra um anel brilhante em torno da escuridão – o sinal revelador da sombra do buraco negro", acrescentou.
Buracos negros é uma área de pesquisa muito ativa por astrônomos e físicos que procuram aprender um pouco mais sobre esses objetos enigmáticos, mas até hoje não se sabe como eles se formam e crescem tanto.
Capturar uma imagem de um buraco negro diretamente ainda é impossível com a tecnologia atual, o que dificulta ainda mais o seu estudo.
E talvez, por ser objetos tão massivos que não permitem que nada possa escapar de sua atração gravitacional, incluindo a luz, sua natureza nunca permitirá que sejam "vistos".
Mas isso não significa que os pesquisadores não possam saber mais sobre esses objetos, os astrônomos ainda podem capturar a silhueta de um buraco negro e usar o material que circula em sua volta para estudá-lo.
Foi o que os cientistas do EHT fizeram, eles capturaram a sombra do buraco negro que aparece contra um pano de fundo cercado por um disco giratório de gás e poeira que brilha e aquece pela poderosa atração gravitacional.
No entanto, este não é um trabalho simples. Para capturar uma imagem como a do Sagitário A* com um único telescópio, ele teria que ser do tamanho do planeta Terra, segundo o grupo Event Horizon Telescope.
Como esta condição está fora da realidade, os cientistas tiveram que criar uma solução alternativa com uma ampla variedade de antenas de rádio espalhadas por cinco continentes diferentes.
Foi então que os cientistas decidiram usar oito radiotelescópios que estão estacionados no Chile, Havaí, Antártica e em outros lugares do mundo.
Com supercomputadores, os pesquisadores fizeram com que estes radiotelescópios trabalhassem todos juntos, comportando-se como se fossem um telescópio gigante do tamanho de um planeta.
Com isso, foi possível reunir dados coletados por estes telescópios e criar uma única imagem num processo que durou meses e meses para ser concluído. Algo semelhante ao que foi feito para capturar o buraco negro da M87.
"Tirar uma foto com o EHT é como ouvir uma música sendo tocada em um piano que tem muitas teclas faltando", disse Katie Bouman, astrônoma do Caltech.
Embora o Sgr A* seja menor que o buraco negro da M87 e mais próximo da Terra, ele é menos ativo e seu material ao redor é muito mais escuro, tornando-o mais difícil de ser observado.
Além disso, os cientistas identificaram uma material ao redor do Sgr A* que exibe "chamas estranhas" quando as partículas se aceleram para velocidades muito mais altas.
Isso acaba gerando um show de luzes e alterando a composição do buraco negro a cada poucas horas, dificultando a observação ao longo do tempo.
Para facilitar os próximos trabalhos, a equipe do EHT está adicionando ainda mais telescópios com o objetivo de criar a próxima geração do Event Horizon Telescope (ngEHT).
Isso permitirá que os cientistas processem imagens em movimento de um buraco negro, mostrando como ele evolui ao longo do tempo. Veja a demonstração abaixo: