A Arm Ltd, uma importante empresa britânica de design de chips, pode estar prestes a causar um grande estrago no mercado global de smartphones.
A empresa ameaçou cancelar a licença de design de chips da Qualcomm, uma das maiores fabricantes de semicondutores do mundo.
Essa disputa, que já se arrasta desde 2022, foi recentemente citada em um relatório da Bloomberg. A Arm optou por não comentar a situação, enquanto a Qualcomm acusa a empresa de tentar forçar a renovação dos termos de licença.
Os designs de chips da Arm são fundamentais para a indústria de smartphones, sendo usados em dispositivos de todos os tipos e faixas de desempenho.
A empresa desempenha um papel central, com mais de 28,6 bilhões de chips baseados em seus designs enviados ao longo de 2023.
Uma possível revogação da licença da Qualcomm pode ter sérias consequências para a cadeia de produção global de smartphones, já que mais de 99% do mercado de royalties de aplicativos móveis, avaliado em cerca de US$ 30 bilhões, dependem dos designs da Arm.
A origem da disputa: Qualcomm e a aquisição da Nuvia
O conflito entre Arm e Qualcomm teve início após a aquisição da startup Nuvia pela Qualcomm, em 2021. A compra foi parte de uma estratégia da Qualcomm para diversificar seu portfólio e entrar no mercado de laptops após o lançamento dos processadores M1 da Apple para MacBooks, em 2020.
Contudo, a Arm argumentou que as licenças da Nuvia não poderiam ser transferidas para a Qualcomm sem sua aprovação expressa, o que acabou gerando uma disputa legal.
Agora, com a ameaça de cancelamento, a Arm emitiu um aviso padrão de 60 dias, dando um prazo para a Qualcomm responder.
Isso representa uma tentativa de pressionar a fabricante de chips em um momento importante, quando as duas empresas já se encontram envolvidas em uma ação judicial.
As estratégias das empresas e o mercado de chips
A Qualcomm conseguiu uma receita de US$ 18,8 bilhões com vendas de smartphones entre janeiro e junho de 2023, mas está tendo dificuldades devido à queda nos gastos do consumidor, principalmente na China.
A diversificação de seus negócios é visto como algo essencial para enfrentar a volatilidade do mercado de smartphones, que representa uma grande fatia de sua receita.
A aquisição da Nuvia foi um passo estratégico para capturar parte do mercado de laptops, ainda que essa tentativa tenha gerado atritos com a Arm.
A Arm, por sua vez, enfrenta uma grande pressão dos investidores para aumentar a receita após divulgar sua última oferta pública de ações.
A empresa tem buscado novas formas de expandir seus negócios, incluindo dar liberdade para seus clientes utilizarem diretamente seus designs em produtos comerciais.
Isso a coloca em confronto com empresas como a Qualcomm, que dependem dos seus projetos de chips para fornecer componentes a fabricantes como Nokia e Samsung.
O que pode acontecer se a Arm realmente cancelar a licença?
Caso a Arm siga adiante com a ameaça, o mercado global de smartphones e dispositivos móveis pode sofrer um abalo nunca visto antes.
A Qualcomm, que é uma das maiores fornecedoras de chips para fabricantes de smartphones, teria que buscar alternativas para evitar interrupções na cadeia de produção.
Essa situação poderia levar a atrasos na fabricação de dispositivos e até mesmo ao aumento dos preços, já que os custos para desenvolver ou licenciar novos designs de chips são consideráveis.
Por outro lado, a Arm também arriscaria prejudicar suas próprias receitas, visto que perderia um parceiro de longa data e uma fonte importante de royalties.
Isso pode ter implicações críticas em um momento em que a competição no setor de semicondutores é acirrada, com empresas como TSMC e até mesmo Amazon avançando em projetos de chips personalizados para data centers.
Isso revela que a disputa entre Arm e Qualcomm não se trata apenas de um conflito jurídico, mas também uma luta por mais presença e participação de mercado em um setor altamente dinâmico.
Enquanto a Qualcomm busca se diversificar para se proteger das oscilações do mercado de smartphones, a Arm tenta maximizar seus lucros e expandir suas operações.
O desenrolar dessa batalha pode moldar o futuro da indústria de semicondutores e impactar a disponibilidade e o custo dos dispositivos móveis que utilizamos no dia a dia.