O mercado de óculos inteligentes ganhou novo fôlego com o avanço da inteligência artificial (IA) e com o lançamento dos modelos da Meta.
Depois que o Google decidiu encerrar seu projeto de smart glasses em 2023, o setor parecia adormecido, mas voltou a despertar o interesse de gigantes da tecnologia.
O próprio Mark Zuckerberg, CEO da Meta, afirmou que, com a chegada da IA, quem não usar óculos inteligentes poderá ficar em desvantagem cognitiva.
Para entender como esses dispositivos podem transformar a indústria de eletrônicos e a fabricação de chips e GPUs, o site Wccftech conversou com Dr. Chris Parkinson, presidente da divisão Enterprise Solutions da Vuzix Corporation, uma das líderes na produção de óculos inteligentes com recursos de IA.
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A Vuzix fabrica óculos inteligentes voltados tanto para o consumidor final quanto para o uso corporativo. Parkinson explicou como esses equipamentos estão ajudando na produção de semicondutores e no controle de qualidade em fábricas de eletrônicos.
A empresa inclusive recebeu recentemente um investimento de US$ 5 milhões da Quanta, uma das maiores fabricantes terceirizadas de Taiwan.
O mercado atual de óculos inteligentes com IA
Dr. Parkinson, que assumiu o cargo há poucas semanas, contou que a Vuzix atua em duas frentes, que inclui a fabricação dos componentes ópticos chamados waveguides (responsáveis por projetar imagens nas lentes) e o desenvolvimento de produtos completos voltados ao mercado corporativo.
Segundo ele, o setor de óculos inteligentes vive um momento muito positivo, graças a dois avanços tecnológicos recentes.
O primeiro é justamente o waveguide, que integra uma tela invisível nas lentes, eliminando o visual pesado dos antigos headsets.
O segundo é o uso da inteligência artificial, que tornou a interação com os óculos muito mais natural — o usuário pode falar e receber respostas, em vez de navegar por menus confusos.
Essas duas inovações fizeram o mercado crescer muito rápido. Hoje, várias empresas apostam que os óculos inteligentes serão os sucessores dos smartphones.
Porém, Parkinson observa que o setor de consumo ainda não encontrou o "aplicativo matador" — aquela função que convence o público a abandonar o celular. Já no setor corporativo e militar, o cenário é diferente.
Há usos claros e imediatos, desde manutenção de equipamentos até treinamentos e controle de qualidade. É nesse campo que a Vuzix está concentrando seus esforços.

O que mudou desde o Google Glass
Questionado sobre por que acredita que os óculos inteligentes vão dar certo agora, mesmo após o fracasso do Google Glass, Parkinson apontou dois pontos principais: o tempo e a evolução da tecnologia.
Dez anos atrás, a ideia de colocar um computador na cabeça era completamente nova e estranha para o público. Hoje, isso já não causa o mesmo impacto. Filmes, séries e outras iniciativas ajudaram a tornar o conceito familiar.
Além disso, o Google Glass tinha limitações sérias que o tornava visualmente estranho e difícil de usar. O toque e os gestos não funcionavam bem. A tecnologia atual é mais avançada, discreta e intuitiva.

IA e produtividade no trabalho
Zuckerberg disse recentemente que os óculos inteligentes com IA podem "aumentar a inteligência" de quem os usa. Para Parkinson, isso é totalmente possível no contexto corporativo, quem trabalha com o apoio desses dispositivos tende a ter desempenho melhor e mais eficiente.
Os óculos liberam as mãos do usuário, o que é ideal para quem trabalha com ferramentas ou equipamentos. Imagine um mecânico que precisa consultar esquemas enquanto conserta um motor.
Em vez de parar para olhar o tablet, ele simplesmente fala com os óculos e recebe as informações direto nas lentes. Com o avanço da IA, os próprios óculos podem reconhecer o que o usuário está vendo e oferecer instruções em tempo real, ajudando a corrigir erros e aumentar a segurança.

As vantagens competitivas da Vuzix
O diferencial da Vuzix está em sua capacidade de produzir waveguides em larga escala e com baixo custo, algo que poucas empresas dominam.
Fabricar esses componentes exige alta precisão óptica, e a Vuzix passou 14 anos aperfeiçoando o processo. Enquanto concorrentes conseguem produzir apenas pequenas quantidades, a Vuzix já prepara suas linhas para volumes industriais.
Essa competência foi o que atraiu o investimento da Quanta, responsável pela montagem de produtos como o MacBook Pro da Apple.
Além disso, a empresa tem autonomia total sobre o processo — do componente à montagem final. Essa estrutura "de ponta a ponta" é rara no setor e dá à Vuzix uma vantagem clara no mercado corporativo.
O desafio do tamanho e peso
Um dos maiores obstáculos na criação de óculos inteligentes é o espaço. Todos os componentes — câmeras, sensores, chips e bateria — precisam caber em uma estrutura menor que um smartphone.
Parkinson explica que o segredo está em encontrar um equilíbrio onde os óculos devem realizar apenas o necessário e transferir o processamento mais pesado para o celular ou outro dispositivo próximo. Isso reduz o consumo de energia e mantém o peso leve o bastante para o uso diário.
Uso dos óculos inteligentes na indústria
Empresas como Quanta e Foxconn, que produzem equipamentos para grandes marcas, já estão adotando os óculos da Vuzix em tarefas de inspeção e treinamento.
Com eles, é possível acompanhar a montagem de produtos à distância, realizar vistorias sem enviar equipes para outro país e treinar funcionários com instruções passo a passo diretamente nas lentes.
A IA integrada ainda ajuda a identificar erros — por exemplo, detectar a falta de um parafuso durante o processo de montagem — e alertar o trabalhador em tempo real. Isso aumenta a qualidade e reduz desperdícios.

Aplicações na fabricação de chips e GPUs
Na indústria de semicondutores, onde o trabalho é extremamente técnico e exige ambientes limpos, os óculos inteligentes tem várias vantagens. Operadores que usam luvas e máscaras podem interagir com sistemas sem precisar tocar em telas.
Eles também auxiliam nas rotinas de inspeção de máquinas e verificação de parâmetros, registrando automaticamente o que foi verificado e garantindo que cada etapa esteja dentro dos padrões exigidos.
Em caso de dúvida ou falha, o funcionário pode acionar um supervisor remoto, que vê o mesmo que ele e orienta na hora. Isso torna o processo mais ágil e reduz erros humanos.
O futuro do setor
Parkinson acredita que grandes fabricantes — como Apple, TSMC e NVIDIA — podem adotar soluções da Vuzix em breve. O objetivo é oferecer sistemas prontos para uso, capazes de integrar inspeções, treinamentos e controle de qualidade em tempo real.
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Para ele, os óculos inteligentes devem se tornar parte essencial das linhas de produção na fabricação de chips, GPUs e eletrônicos de consumo.
Eles simplificam auditorias, conectam equipes de diferentes prédios ou países e tornam o fluxo de informações mais rápido e preciso.
Nas palavras de Parkinson: "Absolutamente, sim. Os óculos inteligentes são o futuro da fabricação de eletrônicos, de chips e da produção de GPUs de IA."








