A Microsoft, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, anunciou recentemente a demissão de cerca de 9 mil funcionários em diversos setores da companhia.
Apesar do número total ser assustador, ainda não está claro quantas dessas pessoas faziam parte do time de Xbox e da divisão de games.
O que se sabe, no entanto, é que muitas delas eram profissionais experientes e talentosos, alguns com anos de dedicação à indústria de jogos. E o motivo por trás de tantas demissões? O avanço acelerado da inteligência artificial (IA).
Segundo relatos de quem foi afetado pelas demissões, a Microsoft estaria investindo pesado na substituição de mão de obra humana por ferramentas baseadas em IA. A ideia da empresa seria tornar os processos de desenvolvimento e publicação de jogos mais "eficientes".
Mas muitos veem isso como um movimento apressado e insensível, principalmente considerando que diversas dessas pessoas demitidas tinham um conhecimento profundo do setor — algo que a IA, por mais avançada que esteja, ainda não consegue reproduzir com a mesma qualidade.
Um dos episódios que mais chamou atenção foi o compartilhamento de um e-mail feito por Brandon Sheffield, diretor do estúdio Necrosoft Games, que recebeu um convite da Microsoft e do programa ID@Xbox para participar de uma mesa redonda na Gamescom 2025.
No convite, a Microsoft dizia querer conversar sobre como a IA pode ser usada para melhorar as ferramentas e os processos de criação de jogos. A reação? Sheffield e outros desenvolvedores ficaram visivelmente revoltados.
Um deles, Benjamin Rivers, criador de Toronto, respondeu ao convite com a frase "just get wrecked, mates" — algo como "que se danem". Sheffield concordou: "eles realmente deveriam".
Meanwhile this email came from Microsoft this morning.
— Brandon Sheffield (@brandon.insertcredit.com) 2025-07-03T15:39:54.103Z
O que mais incomoda nesse cenário é o contraste entre o discurso da empresa e suas ações. Ao mesmo tempo em que promove o uso de IA como uma maneira de tornar o trabalho mais rápido e barato, a Microsoft deixa para trás pessoas que construíram boa parte da história da indústria de jogos com dedicação, criatividade e experiência real.
Muitos desses profissionais foram responsáveis por projetos consagrados, que não existiriam se não fosse a visão humana por trás deles.
Além disso, o uso apressado da IA pode acabar sendo mais caro a longo prazo. Apesar de parecer moderna e eficiente, essa tecnologia ainda está longe de ser perfeita.
Muitas vezes, os sistemas de IA exigem ajustes, supervisão humana e podem cometer erros que geram retrabalho ou frustrações para jogadores. Ou seja, o que parecia ser um "atalho" pode se transformar num caminho cheio de obstáculos.
No fim das contas, todos saem perdendo. Os profissionais que perdem seus empregos; os jogadores, que podem receber jogos menos criativos ou com qualidade duvidosa; e a própria indústria, que corre o risco de se tornar menos humana e mais robotizada, perdendo o que há de mais valioso na criação de games — a imaginação e o toque pessoal de quem realmente entende do assunto.
A tentativa de substituir veteranos por máquinas não só desvaloriza quem está há anos na estrada, como pode comprometer o futuro de uma área que precisa, mais do que nunca, de pessoas apaixonadas e comprometidas.