A Intel já foi sinônimo de inovação no mercado de tecnologia, mas nos últimos anos tem ficado para trás, principalmente no setor de Inteligência Artificial (IA).
Raja Koduri, ex-executivo que comandou a divisão gráfica da empresa, resolveu abrir o jogo e explicar o que está segurando o avanço da companhia: uma burocracia interna que trava decisões importantes e impede a inovação.
Segundo Koduri, a Intel tem todas as ferramentas para ser líder no mercado, desde tecnologias avançadas até propriedade intelectual (IP) de ponta.
Contudo, o maior obstáculo não é técnico, e sim administrativo. Ele afirma que os processos internos e a cultura de medo dentro da empresa fazem com que grandes oportunidades sejam desperdiçadas.
Ele cita como exemplo o fato de a Intel ter optado por insistir em seus próprios processos de fabricação, em vez de aproveitar as soluções da TSMC, uma das maiores fabricantes de chips do mundo.
Isso acabou levando a atrasos e desempenho abaixo do esperado em diversos produtos. Koduri usa uma expressão curiosa para definir os culpados: "as serpentes de planilhas e PowerPoints".
Ele diz que esses burocratas estão mais preocupados em minimizar perdas trimestrais do que em enxergar o cenário completo e investir na liderança de mercado.
Projetos cancelados que poderiam ter mudado o jogo
Outro ponto levantado por Koduri é que a Intel abandonou projetos que poderiam ter revolucionado a indústria. Ele menciona o Rialto Bridge e o Falcon Shores, duas GPUs de alto desempenho voltadas para computação em nuvem e IA.
De acordo com o executivo, se a Intel tivesse lançado o Rialto Bridge em 2024, poderia ter batido de frente com a NVIDIA e sua poderosa GPU Hopper H100.
Mas, por conta da falta de ousadia e das travas internas, isso nunca aconteceu. O resultado? A empresa agora amarga uma das menores fatias de mercado no setor de IA. Koduri também sugere algumas soluções para tirar a Intel do buraco.
Ele aponta que, para competir com empresas como NVIDIA e AMD, a Intel precisa mudar sua cultura interna, incentivar ideias inovadoras e tomar decisões mais rápidas e eficientes.
Segundo ele, no passado, sob o comando do ex-CEO Andy Grove, a empresa conseguia tomar decisões inteligentes porque a liderança conhecia profundamente cada detalhe do funcionamento da companhia. Hoje, parece que a burocracia tomou conta e impede qualquer mudança maior.
Ele conclui falando que se a Intel quiser recuperar seu espaço no mercado, precisa se livrar dessas "serpentes burocráticas" e começar a agir com mais coragem e estratégia. Caso contrário, corre o risco de ficar cada vez mais para trás.
"As 'serpentes de planilhas e powerpoint' – processos burocráticos que dominam a tomada de decisões corporativas – muitas vezes falham em compreender o verdadeiro custo de abrir mão da liderança de desempenho. Elas otimizam para minimizar perdas trimestrais enquanto perdem o panorama geral. Um clima de medo envolve qualquer tentativa de iniciativas skunkworks fora dos processos estabelecidos – um passo em falso, e as cobras burocráticas atacam." - Raja Koduri.
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