A OpenAI está passando por um momento polêmico com os testes de sua plataforma experimental de geração de vídeo, Sora.
Após um grupo de artistas tornar pública uma versão de teste restrita, a empresa suspendeu o acesso ao programa para todos os usuários, reacendendo debates sobre o papel da inteligência artificial (IA) nas artes e a relação entre desenvolvedores de tecnologia e artistas.
O que aconteceu com o Sora?
Na manhã de terça-feira (26), o coletivo PR Puppets disponibilizou uma página no Hugging Face chamada Generate with Sora, dando acesso a API da plataforma para qualquer pessoa.
Essa página estava conectada diretamente aos servidores da OpenAI, utilizando tokens de autenticação fornecidos originalmente aos testadores selecionados pela empresa.
O acesso durou poucas horas, mas foi o suficiente para causar um grande impacto. Vários usuários geraram vídeos com a ferramenta e compartilharam os resultados nas redes sociais.
A OpenAI rapidamente revogou os acessos e anunciou a pausa nos testes, alegando a necessidade de revisar a segurança e o uso da plataforma.
Protesto ou exposição?
O PR Puppets justificou a divulgação como uma forma de protesto. Segundo o grupo, composto por cerca de 300 artistas, a OpenAI estaria se beneficiando de trabalho não remunerado, solicitando feedback, testes de bugs e experimentos artísticos sem oferecer contrapartidas justas.
Em uma carta aberta intitulada Dear Corporate AI Overlords ("Queridos Senhores Corporativos da IA", em tradução livre), o grupo declarou:
"Não somos contra o uso da tecnologia de IA como ferramenta artística. O que criticamos é a forma como este programa foi lançado, priorizando interesses corporativos sobre os artistas que moldam a ferramenta".
A carta, que foi atualizada ao longo do dia com assinaturas de outros artistas, também fala que as criações feitas no Sora precisam ser aprovadas pela OpenAI antes de serem divulgadas publicamente.
Resposta da OpenAI
A OpenAI disse que a participação no alfa do Sora era totalmente voluntária. Em uma declaração dada à ArsTechnica um porta-voz da empresa explicou:
"Sora ainda está em fase de pesquisa, e estamos trabalhando para equilibrar criatividade com medidas de segurança robustas. A contribuição de centenas de artistas no alfa nos ajudou a priorizar novos recursos e salvaguardas."
Ainda assim, críticas permaneceram. Apesar da defesa da OpenAI, parte da comunidade artística argumenta que essas contribuições voluntárias equivalem a trabalho gratuito, principalmente considerando o valor de mercado da empresa, estimado em US$ 150 bilhões.
E agora... Como fica o Sora?
A OpenAI tem planos de lançar o Sora para o público geral, mas o vazamento e os protestos podem atrasar ainda mais esse cronograma.
Inicialmente previsto para 2023, o lançamento já havia sido adiado para o final deste ano devido à necessidade de melhorias no modelo e na infraestrutura computacional.
Outras empresas, como Google e Meta, também estão avançando com suas próprias tecnologias de geração de vídeo, aumentando a pressão para que a OpenAI acelere o desenvolvimento do Sora e evite perder relevância nesse mercado.
O papel dos artistas e da ética no segmento de IA
Esse episódio levantou questões importantes sobre a ética na colaboração entre gigantes da tecnologia e comunidades criativas.
Por um lado, a IA oferece novas possibilidades artísticas; por outro, ela pode colocar artistas em situações desiguais, exigindo trabalho sem a devida valorização.
Enquanto isso, ferramentas alternativas como Minimax, que possuem funcionalidades similares ao Sora, já estão disponíveis ao público, mostrando que a concorrência nesse setor está mais acirrada do que nunca.