Hackers podem parar trem nos EUA com falha que existe há mais de 10 anos

Trem nos EUA

Uma falha de segurança grave nos trens dos Estados Unidos pode permitir que hackers parem os freios das locomotivas à distância.

Essa vulnerabilidade existe há mais de uma década, e só agora a indústria ferroviária começou a tomar providências para corrigir o problema.

O alerta veio de um pesquisador independente em segurança digital. Segundo o 404 Media, desde 2012, especialistas sabem que os sistemas de freio dos trens americanos podem ser controlados via rádio.

Ou seja, com o equipamento certo, um criminoso pode enviar sinais para parar um trem — mesmo sem estar fisicamente dentro dele.

A falha foi descoberta por Neil Smith, um pesquisador que atua na área de cibersegurança. Ele afirma que esse conhecimento já está disponível na internet e pode ser usado até com ajuda da inteligência artificial (IA).

"Todo o conhecimento para criar esse ataque já está online. A IA pode até montar o código para você. A única limitação é que você precisa estar relativamente perto do trem para que o sinal seja captado", disse Smith.

Smith conta que dispositivos simples, como o FlipperZero — um aparelho barato e pequeno — já conseguem parar um trem estando a poucos metros de distância.

Se a pessoa usar um equipamento mais potente, como um transmissor em um avião a 9 mil metros de altura, o sinal poderia alcançar até 240 quilômetros de distância.

Apesar disso, ele também comenta que esse tipo de ataque à longa distância não seria eficiente para um roubo, por exemplo, porque o criminoso estaria longe demais do trem.

"Com o FlipperZero, dá pra fazer isso a alguns metros. Agora, se você tiver um avião com bastante potência, pode chegar a 150 milhas (cerca de 240 km) de alcance", explica o especialista.

O problema foi reportado há anos, mas a resposta da indústria ferroviária foi lenta. Smith afirmou que, quando avisou a Associação Americana de Ferrovias (AAR), eles só acreditariam se vissem a falha funcionando pessoalmente. E ainda assim, não autorizaram nenhum teste.

A Agência de Segurança de Infraestrutura e Cibersegurança dos EUA (CISA), por sua vez, declarou que já acompanha o problema há mais de 10 anos e trabalha junto ao setor ferroviário para criar soluções. Segundo Chris Butera, diretor assistente da CISA:

"Para explorar essa falha, o invasor precisaria estar fisicamente perto da linha do trem, ter conhecimento técnico profundo e equipamentos específicos. Isso dificulta ataques em larga escala. Mas sim, a vulnerabilidade é séria e estamos agindo para resolver."

Mesmo com os esforços atuais, Smith acredita que a solução pode levar anos. Ele critica a forma como a indústria trata o tema, comparando-a com seguradoras que evitam pagar indenizações.

"Eles tratam a cibersegurança como as seguradoras tratam clientes: atrasam e negam. Por isso, a correção pode demorar bastante", finaliza Smith.