Quem acompanha o mundo dos videogames provavelmente já ouviu falar do grande corte que a Microsoft fez em julho. Mais de 9 mil pessoas foram demitidas, e boa parte dessas demissões afetou diretamente a divisão de jogos da empresa, como Xbox e estúdios conhecidos como The Initiative, ZeniMax Online, Rare e King.
O impacto foi tão forte que até agora surgem relatos de como tudo aconteceu. Desenvolvedores da ZeniMax Media, tanto os que ainda estão na empresa quanto os que foram demitidos, contaram ao site Game Developer como foi viver esse momento caótico.
Muitos usaram palavras duras para descrever a forma como tudo foi conduzido: "desumana" e "nojenta" foram alguns dos termos mais repetidos.
Um ex-funcionário relatou que foi desconectado do e-mail, do Slack (plataforma de mensagens internas) e de todas as ferramentas de trabalho sem nem ser avisado de que tinha sido mandado embora.
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Passou horas sem nenhuma resposta da empresa, completamente no escuro. A funcionária Page Branson, que é parte do sindicato ZWU-CWA, contou que ninguém sabia ao certo quem ainda tinha emprego e quem já estava fora.
Isso deixou muita gente confusa e desesperada. Segundo ela, algumas das pessoas demitidas eram peças-chave para o funcionamento de jogos como The Elder Scrolls Online.
Outra funcionária, Autumn Mitchell, também do sindicato e com cargo sênior de controle de qualidade (QA), foi direta: "Isso não é normal. Não importa quantas vezes façam, não é aceitável. Dizer que é feito com respeito não torna isso menos desumano."
Mitchell ainda contou que pessoas com mais de 15 anos de casa foram desligadas de forma fria e rápida. Muitos tiveram que correr para escrever uma mensagem de despedida no Slack, se despedindo de colegas com quem trabalharam por anos — pessoas que ajudaram a empresa a ganhar dinheiro por mais de uma década. "Isso é nojento", afirmou.
Mas o problema vai além do sofrimento pessoal. Com tantas demissões, a empresa perdeu algo muito valioso, o conhecimento acumulado ao longo dos anos por esses profissionais. "Uma grande parte do conhecimento prático simplesmente sumiu da noite para o dia", disse Branson.
Agora, quem ficou precisa tentar manter tudo funcionando mesmo sem os profissionais que faziam o trabalho rodar. "Parece que essas pessoas foram tratadas como números, mas na prática eram vitais."
Mitchell calculou que cerca de um terço do conhecimento interno da ZeniMax foi perdido com os cortes. E ninguém sabe como manter a qualidade dos jogos do jeito que era antes.
Ela ainda alertou que, sem trazer de volta pessoas importantes que foram demitidas, continuar os projetos parece impossível.
A forma como a Microsoft fez essas demissões não machucou apenas os trabalhadores — também abalou a confiança de quem acredita na marca Xbox. Tudo foi feito de forma apressada e sem cuidado com os profissionais.
O que parece uma "economia" no curto prazo pode sair caro no futuro menos pessoas, menos experiência, mais dificuldades para ensinar os novos e manter a qualidade que os jogadores sempre esperaram.
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Esse tipo de decisão mostra como fica difícil imaginar um futuro promissor para a Microsoft no mundo dos games. E até como uma empresa publicadora de jogos, muitos se perguntam por que confiar em uma companhia que simplesmente corta gente tão importante só para seguir as modas passageiras da tecnologia?