Campanha da Volkswagen com Elis Regina alerta para o "trabalho pós-vida"

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Com o avanço da Inteligência Artificial (IA), está cada vez mais claro que algumas pessoas perderão seus empregos enquanto os falecidos serão "ressuscitados" para trabalhar, o que tem gerado discussões sobre uma nova atividade chamada de "trabalho pós-vida".

A Volkswagen Brasil surpreendeu a todos ao lançar uma campanha protagonizada por Elis Regina, uma das maiores vozes da música brasileira, mesmo após seu falecimento em 1982.

Utilizando a tecnologia de IA, a cantora foi "revivida" digitalmente e se juntou à sua filha, Maria Rita, em uma emocionante interpretação da música "Como Nossos Pais", de Belchior.

Esse assunto tomou conta da internet e as buscas no Google pelos termos "Deep Fake" e "Deep Learning" explodiram, o que mostra o interesse e a preocupação das pessoas em relação a essa tecnologia emergente.

Apesar do aspecto emocional positivo da propaganda, é importante considerarmos as implicações éticas e morais envolvidas no uso desse tipo de tecnologia que pode criar imagens e vídeos extremamente realistas de pessoas falecidas.

O especialista em IA Guilherme Silveira, CIO da Alura, o maior ecossistema de aprendizado em tecnologia do Brasil, alerta para as implicações humanas que vão além do uso comercial da imagem de uma pessoa falecida.

Silveira chama a nossa atenção para o trabalho pós-vida e destaca a importância de questionar se "temos o direito de tomar decisões em nome dos mortos?"

Para o especialista, além da comoção gerada, devemos considerar o uso da imagem de uma pessoa falecida de uma maneira que não foi escolhida pelo indivíduo que já não está entre nós.

"Há implicações humanas que vão além do uso comercial da imagem de uma pessoa falecida. No mundo do entretenimento, por exemplo, alguns artistas deixam material inédito para ser lançado após sua morte, como uma forma de sustentar a família. Assim como eles, muitos artistas e figuras públicas pensam em como deixar algo para seus entes queridos após sua partida. Mas nunca vimos os mortos trabalhando", disse Silveira.

O especialista destaca que estamos testemunhando diariamente o direito das pessoas de descansarem, enquanto são criadas imagens de momentos que nunca aconteceram.

Isso pode comprometer a memória que as pessoas têm de um determinado artista, criando memórias falsas e apagando a personalidade real.

"Será que é assim que essa pessoa gostaria de ser lembrada? Os vivos têm o poder de decidir pelos mortos?", questiona Silveira.

Segundo Silveira, devemos sempre lembrar do potencial destrutivo do uso inadequado dessas técnicas e da necessidade de obter autorização das pessoas envolvidas antes de realizar testes ou experimentos com suas imagens.

"Existem diretrizes para projetar, desenvolver e implementar sistemas de inteligência artificial com ética, de modo a produzir resultados imparciais, justos, diversos e legais, ampliando os benefícios da IA na sociedade", conclui.