Gamers sugerem "Boicote à RAM" para forçar queda de preços, mas a realidade é outra

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A ideia de um "boicote à RAM" começou a circular nas redes sociais como se fosse a formula mágica para derrubar os preços dos módulos DDR4 e DDR5.

Muita gente acredita que, se os consumidores pararem de comprar, os valores vão cair rapidamente. Mas a situação real do mercado mostra outra história.

Boa parte dos nossos leitores já acompanha o que vem acontecendo com o preço da memória, mas muita gente ainda olha para as etiquetas das lojas e fica sem entender por que tudo subiu tão rápido.

O aumento nas lojas acaba influenciando o sentimento da comunidade, mas para enxergar o cenário completo é preciso olhar para toda a cadeia de produção.

O assunto ganhou força depois de um post no Reddit, onde um usuário chamou os gamers para uma espécie de "boicote" acreditando que todos economizariam muito com isso.

Só que, olhando para o momento atual da indústria, esse movimento teria pouco efeito — e ainda poderia atrapalhar quem já precisa comprar RAM agora, pagando mais caro do que pagaria meses atrás.

Por que os preços de memória subiram tanto de uma hora para outra?

Muita gente coloca toda a culpa da alta no setor de Inteligência Artificial, mas tem mais coisa envolvida. Durante o período da COVID, o mercado de PCs entrou em um ciclo estranho.

Na época, o consumo de RAM despencou, e isso fez as empresas reduzirem a produção para evitar prejuízo. Fabricantes como a Samsung chegaram a relatar queda de procura por DRAM, o que já mostrava um problema sério lá atrás.

Quando o DDR5 chegou, não rolou aquela corrida típica de transição de geração. Parte disso aconteceu por causa do AM4, que deu vida longa para máquinas já montadas.

Como resultado, as fabricantes ficaram com linhas de produção reduzidas e sem motivo para ampliar a capacidade. Agora, com a procura explodindo de forma repentina, o mercado não estava pronto.

E é aí que entra o ponto central da discussão. Boa parte da demanda atual vem do setor de IA. Mesmo sem números exatos, dá para dizer que esse segmento está absorvendo praticamente tudo o que aparece.

Ou seja, mesmo que gamers parem completamente de comprar RAM, gigantes como NVIDIA, AMD e os provedores de nuvem vão continuar comprando quantidades enormes.

Isso significa que a ausência dos consumidores comuns quase não mudaria nada para Samsung, SK hynix e Micron. A pressão do mercado de IA envolve todos os tipos de memória: DDR, GDDR, RDIMM, LPDDR e, claro, HBM — que virou peça-chave nos chips modernos.

Como a HBM é extremamente importante para esse setor, boa parte da capacidade das fábricas está indo para ela. E como as empresas decidem para quem vender, é fácil imaginar quem fica no topo da lista — e não é o público gamer.

Memória DRAM de 1 aNM da SK hynix

Já que o boicote não resolve, o que os gamers podem fazer agora?

Essa é a parte que realmente interessa. Tem algumas coisas que podem ajudar a driblar esse momento difícil do mercado de memória. A primeira coisa é evitar o "medo de perder a chance".

Se você tem 8 GB ou 16 GB e seu PC ainda dá conta, segure por alguns meses. Fazer upgrade agora é basicamente gastar mais com algo que poderia esperar sem afetar tanto o uso diário.

Se você precisa comprar memória porque está montando uma máquina do zero, o caminho mais viável é aproveitar o período de promoções.

Mesmo com valores altos, ainda é a melhor alternativa no curto prazo. A previsão é que os preços continuem nesse nível por mais alguns meses.

Outra opção que muita gente nem considera: comprar um PC pré-montado. Isso porque várias fabricantes ainda não atualizaram os preços dos kits prontos considerando a falta de memória.

Na prática, dá para encontrar máquinas com custo final abaixo do que você pagaria montando peça por peça. No ritmo atual, novos produtos devem chegar mais caros se o fornecimento continuar apertado.

E, segundo estimativas, essa situação pode ir longe, com efeitos até 2027. Por isso, entender o movimento da cadeia de produção é importante para fazer a melhor escolha possível.

Romário Leite
Fundador do TecFoco. Atua na área de tecnologia há mais de 10 anos, com rotina constante de criação de conteúdo, análise técnica e desenvolvimento de código. Tem ampla experiência com linguagens de programação, sistemas e jogos. Estudou nas universidades UNIPÊ e FIS, tendo passagem também pela UFPB e UEPB. Hoje, usa todo seu conhecimento e experiência para produzir conteúdo focado em tecnologia.