Um homem cego que recebeu um gene de uma proteína de algas sensível à luz agora pode ver e tocar objetos com a ajuda de óculos especial.
De acordo com os pesquisadores de um estudo financiado pela, GenSight Biologics, os ganhos de visão do paciente são notáveis. No entanto, ele não consegue ver cores ou diferenciar rostos ou letras.
Mas se o tratamento ajudar outros participantes do estudo, este método pode oferecer vantagens sobre outras tecnologias de visão para pessoas gravemente cegas.
Este é o primeiro relatório publicado do uso de uma tecnologia relativamente nova chamada optogenética para tratar uma doença em pessoas.
"Este não é o tipo de visão que as pessoas sonham, mas, é um grande passo", disse Jean Bennett, da Universidade da Pensilvânia, que trabalha em terapia genética para cegueira, mas não esteve envolvido no estudo.
A optogenética usa luz para controlar os neurônios. Os cientistas adicionaram as células do globo ocular o gene de uma proteína sensível à luz chamada opsina obtida a partir de algas ou bactérias.
Em seguida, emitiram uma luz sobre a célula para desencadear uma alteração na opsina, mudando o estado dos neurónios para ligados ou desligados.
A optogenética existe a quase 20 anos e tem sido usada principalmente como ferramenta para estudar circuitos cerebrais em animais. Mas os pesquisadores esperam tratar doenças como Parkinson e cegueira.
"O olho é o lugar mais simples para começar porque é pequeno e de fácil acesso", disse o co-líder do estudo Botond Roska, médico-cientista da Universidade de Basel, em uma entrevista coletiva na semana passada.
Durante o ensaio clínico, foram tratados pacientes com uma doença hereditária chamada retinite pigmentosa, uma enfermidade que elimina as células fotorreceptoras da retina.
Isso significa que os pacientes perdem as opsinas humanas que transformam a luz em sinais elétricos transmitidos ao cérebro.
Mas seus olhos ainda têm as células ganglionares que direcionam esses sinais para o cérebro por meio do nervo óptico.
Com esta área preservada, os pacientes ainda podem ganhar visão ao dar a essas células uma opsina microbiana.
O primeiro voluntário foi um francês de 58 anos que começou a ficar cego há 40 anos. Quando o experimento começou, ele podia sentir a luz, mas não conseguia distinguir as formas.
Ele recebeu uma injeção em seu pior olho de um vírus inofensivo chamado vírus adeno-associado, que carregava o gene para uma opsina de algas.
Os pesquisadores esperaram alguns meses para as células ganglionares no olho do paciente começar a produzir a nova proteína.
Em seguida, eles começaram a treiná-lo para usar óculos de proteção especial que amplificam a luz de uma imagem e a focalizam na retina no comprimento de onda detectado pela opsina.
Após alguns meses, o homem relatou que podia ver as listras brancas em uma faixa de pedestres enquanto caminhava usando os óculos de proteção.
Ele estava "muito animado, embora talvez não tanto quanto nós", disse à imprensa o co-líder do estudo José-Alain Sahel, médico-cientista da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh e do Instituto de Visão de Paris.
Após passar por alguns outros testes de laboratório, o homem geralmente conseguia encontrar e tocar objetos escuros colocados sobre uma mesa branca, como um caderno ou uma caixa de grampos, que ele não conseguia ver sem os óculos.
E ele podia contar até três copos de vidro. Quando o paciente usava um boné cravejado de eletrodos que mede a atividade cerebral, os sinais mostraram atividade no córtex visual, a parte do cérebro envolvida na visão.
O homem também disse aos pesquisadores que sua vida diária melhorou. Usando os óculos de proteção, ele disse que pode encontrar mais facilmente uma placa ou telefone ou detectar móveis ou uma porta.
Os outros sete pacientes tratados até agora, não foram capazes de concluir o treinamento completo com os óculos por causa da pandemia do coronavírus.
Alguns estão recebendo doses mais altas do vetor viral que podem ajudá-los a ver com mais detalhes, assim como ajustes nos óculos, dizem os pesquisadores, embora nenhuma dessas melhorias permita a visão em cores.
"É fabuloso que isso funcione em humanos", diz o neurocientista Pieter Roelfsema do Instituto Holandês de Neurociência.
No momento, o único tratamento aprovado para esses pacientes é um dispositivo que envia sinais de uma câmera montada em um par de óculos para eletrodos implantados no olho.
Isso pode melhorar a percepção da luz e permitir que algumas pessoas vejam formas, mas requer cirurgia.
Roelfsema, está desenvolvendo um implante cerebral que tem ajudado macacos a ver letras, mas ele observa que isso seria "muito mais invasiva" do que uma injeção no olho.
A empresa que patrocinou o estudo, GenSight Biologics, não é a única que trabalha com optogenética para cegueira. RetroSense Therapeutics lançou um ensaio 5 anos atrás, mas não relatou resultados.
Outra empresa, a Bionic Sight, relatou em março em um comunicado à imprensa que quatro pacientes agora poderam "detectar luz e movimento" ao olhar para um dispositivo semelhante a um cenário de realidade virtual.
Via: Science Mag