Mais de 90 grupos políticos e de direto em todo mundo publicaram uma carta aberta nesta quinta-feira (19) pedindo a Apple para abandonar os planos de monitorar mensagens de crianças.
A Apple anunciou há duas semanas atrás que iria escanear os dispositivos da empresa em busca de imagens de abuso infantil. No entanto, a novidade não agradou a todos.
De acordo com a carta enviada, há uma preocupação eminente de que o recurso de monitoramento de mensagens da Apple seja usado para reduzir a privacidade dos usuários e censurar a fala.
"Embora esses recursos tenham como objetivo proteger as crianças e reduzir a disseminação de material de abuso sexual infantil, estamos preocupados que eles sejam usados para censurar a fala protegida, ameaçar a privacidade e a segurança de pessoas em todo o mundo e ter consequências desastrosas para muitos crianças", escreveram os grupos na carta.
A maior campanha até agora sobre um problema de criptografia em uma única empresa foi organizada pelo Centro para Democracia e Tecnologia (CDT), uma organização sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos.
Alguns signatários estrangeiros, em particular, estão preocupados com o impacto das mudanças em países com sistemas jurídicos diferentes, incluindo alguns que já organizam disputas acaloradas por criptografia e privacidade.
"É tão decepcionante e perturbador que a Apple esteja fazendo isso, porque eles foram aliados ferrenhos na defesa da criptografia no passado", disse Sharon Bradford Franklin, codiretor do Projeto de Segurança e Vigilância do CDT.
Um porta-voz da Apple disse que a empresa abordou questões de privacidade e segurança em um documento que descreve por que a complexa arquitetura do software de digitalização deve resistir às tentativas de subvertê-lo.
As assinaturas incluíram vários grupos no Brasil, onde os tribunais bloquearam várias vezes o WhatsApp por não descriptografar mensagens em investigações criminais.
No entanto, o senado aprovou um projeto de lei que exigiria rastreabilidade das mensagens e de alguma forma marcar o conteúdo da plataforma. Uma lei semelhante foi aprovada na Índia este ano.
"Nossa principal preocupação é o reflexo desse mecanismo, como ele poderia ser estendido a outras situações e outras empresas", disse Flavio Wagner, presidente do capítulo independente Brasil da Internet Society, que o assinou.
"Isso representa um sério enfraquecimento da criptografia", acrescentou.
Outros signatários estiveram na Índia, México, Alemanha, Argentina, Gana e Tanzânia para discutir os planos da Apple sobre o rastreamento de mensagens.
Há duas semanas, a Apple foi pega de surpresa com os crescentes protestos sobre seu novo recurso e ofereceu uma série de explicações e documentos para argumentar que os riscos de falsas detecções são baixos.
Além disso, a empresa disse que recusaria as exigências de expandir o sistema de detecção de imagens além de fotos de crianças sinalizadas por câmaras de compensação em várias jurisdições.
Mas, a fabricante do iPhone não disse nada sobre preferir sair do mercado em vez de obedecer a uma ordem judicial. Isso significa que a empresa pode ser pressionada por tribunais jurídicos como no caso do Facebook.
Embora a maioria das objeções até agora tenha sido sobre o escaneamento de dispositivos, a carta da coalizão também destaca uma falha no iMessage nas contas familiares.
Segundo os autores da carta, a falha está em identificar e borrar nudez nas mensagens das crianças e permitir que elas vejam se os pais forem notificados.
Isso pode colocar em perigo crianças em lares intolerantes ou que procuram material educacional e também pode quebrar a criptografia de ponta a ponta do iMessage, que a Apple defendeu firmemente em outros contextos.
"Uma vez que esse recurso de backdoor estiver integrado, os governos podem obrigar a Apple a estender a notificação a outras contas e detectar imagens que são questionáveis por outras razões que não sejam sexualmente explícitas", diz a carta.
Outros grupos que assinaram a carta incluem a American Civil Liberties Union, a Electronic Frontier Foundation, a Access Now, a Privacy International e o Tor Project.
Via: Reuters