Em mais uma polêmica envolvendo o Facebook, um engenheiro de software da rede social renunciou na terça-feira (8), alegando que não poderia mais continuar trabalhando para contribuir com uma organização que está "lucrando com o ódio".
Em uma publicação em seu perfil do Facebook, Ashok Chandwaney, anunciou sua saída da empresa após 5 anos e criticou publicamente a abordagem do Facebook de lidar com a desinformação e por não fazer o suficiente para combater a incitação ao ódio.
"Depois de quase 5 anos e meio, hoje é meu último dia no Facebook. Estou desistindo porque não aguento mais contribuir para uma organização que está lucrando com o ódio nos Estados Unidos e globalmente", escreveu Chandwaney em uma postagem compartilhada publicamente no Facebook.
"Está claro para mim que, apesar dos melhores esforços de muitos de nós que trabalhamos aqui, e de defensores externos como o Color Of Change, o Facebook está optando por estar do lado errado da história."
Falando sobre como a empresa aborda o discurso de ódio, Chandwaney afirmou que havia uma ausência dos cinco valores essenciais da empresa: ser ousado, focar no impacto, agir rápido, ser aberto e construir valor social.
"A ausência deles na abordagem da empresa ao ódio corroeu minha fé na vontade desta empresa de removê-la da plataforma", escreveu ele.
Ele ainda acrescentou que a rede social está mais preocupado com os lucros do que com a promoção do bem social, e usando os direitos civis como uma campanha de relações públicas.
Apesar dos valores fundamentais do Facebook, a empresa está muito mais preocupado em construir "valor comercial" do que "valor social".
Chandwaney citou algumas das ações recentes do Facebook que levaram seus funcionários a pedir demissão, como o fracasso da empresa em diminuir mentiras islamofóbicas odiosas que levaram a assassinatos no genocídio de Mianmar de 2016-2017.
A recusa do Facebook em remover uma página da milícia amplamente divulgada em Kenosha, Wisconsin, que pedia violência antes de um tiroteio fatal no protesto de justiça racial em Wisconsin.
A decisão do Facebook de não remover uma postagem do presidente Donald Trump por atirar em civis que dizia, "quando o saque começa, o tiroteio começa", bem como a permissão implacável do Facebook de segmentação discriminatória de anúncios.
A renúncia também destaca as críticas que o Facebook está recebendo de seus próprios funcionários, bem como a pressão de defensores dos direitos civis e anunciantes para bloquear o discurso de ódio de forma mais agressiva.
"Parece que o Facebook não encontrou o valor comercial a ser obtido na busca agressiva das estratégias existentes e confiáveis para remover o ódio da plataforma apesar da pressão da sociedade civil, nossos próprios funcionários, nossos próprios consultores e nossos próprios clientes por meio do boicote", Acrescentou Chandwaney.
"Não posso apontar fatos que comprovem essa suposição quando observamos nossos repetidos fracassos em confrontar o ódio e a violência ocorrendo e sendo organizados na plataforma.", completou Chandwaney
Apesar das afirmações de Chandwaney surgir junto com as de outros funcionários que pediram demissão nos últimos meses, o porta-voz do Facebook, Liz Bourgeois disse que a empresa não "se beneficia do ódio" e "investe bilhões de dólares todo ano para manter a comunidade segura em profunda parceria com especialistas externos para revisar e atualizar as políticas."
Ele ainda acrescentou que o Facebook até lançou uma "política líder do setor para ir atrás do QAnon, aumentando o programa de verificação de fatos e removeu milhões de postagens vinculadas a organizações de ódio mais de 96 por cento das quais descobrimos antes que alguém os denunciasse".
Esta não é a primeira vez que um funcionário do Facebook sai da empresa alegando que a empresa não haje contra a violência.
Em junho deste ano, outro engenheiro de software do Facebook, Timothy J. Aveni, da Califórnia renunciou publicamente por causa da falta de resposta da empresa contra as polêmicas postagens de Trump sobre os protestos nos EUA após a morte de George Floyd, um afro-americano, sob custódia policial em Minneapolis.