A nova edição do boletim semanal da Alinea Analytics trouxe uma análise interessante. O analista Rhys Elliott abordou o polêmico assunto da compra da Electronic Arts (EA) pelo chamado Consórcio, em um acordo estimado em US$ 55 bilhões.
O ponto mais preocupante dessa negociação, segundo Elliott, é a enorme dívida de US$ 20 bilhões — um valor que, para muitos especialistas, pode se tornar o estopim de uma onda de demissões em massa nos estúdios da empresa.
De acordo com o analista da Alinea Analytics, a EA deverá considerar a venda de propriedades intelectuais (IPs) e até a separação de alguns estúdios como forma de lidar com a pressão financeira.
Entre os nomes que surgem como possíveis alvos dessas medidas estão BioWare — responsável por franquias famosas como Mass Effect e Dragon Age — e Motive, que atualmente desenvolve o jogo solo do Homem de Ferro e também colabora com o próximo Battlefield 6.
Segundo Elliott, essa dívida bilionária é uma verdadeira bomba-relógio. Apesar do fluxo de caixa da EA, que gira entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões, ajudar a pagar parte das obrigações, a dívida é classificada como de grau especulativo (single-B) — o que aumenta o risco e reduz a margem de segurança.
No universo das aquisições alavancadas (LBOs), esse tipo de endividamento costuma vir acompanhado de uma palavra bem conhecida no mundo corporativo: "eficiência".
Na prática, isso significa cortes profundos de pessoal, demissões em larga escala e redução de custos em várias áreas. Elliott prevê que os cortes serão amplos, afetando tanto os estúdios quanto as equipes de suporte.
Os jogos esportivos, que geram receita constante — como os títulos da linha FIFA (agora EA Sports FC) — devem ser os menos atingidos.
Já os projetos de longo prazo e os jogos single-player, que demoram mais para dar retorno, devem ser os primeiros a sofrer com as mudanças.
Como o analista ironiza, "por que manter uma equipe de RPG que custa US$ 200 milhões se os pacotes de cartas do FIFA geram lucro imediato?"
Nesse cenário, BioWare e Motive parecem estar em situação delicada. BioWare, inclusive, já vinha sendo apontada como um possível alvo de reestruturação mesmo antes da compra.
Além disso, o estúdio tem uma imagem reconhecida por suas narrativas inclusivas e pela defesa de temas ligados aos direitos humanos e à comunidade LGBTQIA+, o que, segundo Elliott, pode gerar atritos dentro da nova estrutura corporativa.
O analista também falou do papel do PIF (Public Investment Fund), fundo soberano do governo da Arábia Saudita, que está por trás do consórcio que adquiriu a EA.
Para Elliott — assim como para outros observadores do mercado —, essa compra faz parte de uma estratégia do PIF para diversificar seus investimentos e reduzir a dependência do petróleo, além de tentar melhorar a imagem internacional do país, frequentemente criticado por violações de direitos humanos.
A aquisição da EA se soma a uma longa lista de investimentos do fundo saudita no setor de games e entretenimento digital, incluindo participações em gigantes como Nexon, Take-Two, CAPCOM, Nintendo e o Embracer Group.
O PIF também comprou a empresa Scopely, que posteriormente adquiriu a divisão de jogos da Niantic, conhecida por Pokémon GO.