Apple é processada por suposto uso de livros piratas no Apple Intelligence

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A Apple, conhecida mundialmente por sua forte defesa da privacidade dos usuários de seus produtos, está no centro de uma nova polêmica.

Dois autores da área de neurociência moveram uma ação coletiva contra a empresa, acusando-a de usar versões piratas de seus livros para treinar o Apple Intelligence — o sistema de inteligência artificial da companhia.

Para uma marca que sempre construiu sua imagem em torno da ética e da confiança, a denúncia é um golpe direto em sua reputação num momento em que ela se prepara para entrar de vez no campo da IA.

De acordo com o processo, a Apple teria utilizado o Books3, um banco de dados incluído em The Pile, uma imensa coleção de textos e obras coletadas de "bibliotecas-sombra" — repositórios conhecidos por disponibilizar materiais sem autorização dos autores.

Entre os conteúdos supostamente usados estariam os livros "Sleights of Mind: What the Neuroscience of Magic Reveals About Our Everyday Deceptions" e "Champions of Illusion: The Science Behind Mind-Bending Magic Tricks", ambos escritos pelos neurocientistas Susana Martinez-Conde e Stephen Macknik, que também são os autores do processo.

A Apple já havia reconhecido anteriormente que utilizou dados ligados ao Books3, mas teria abandonado o uso desse material de forma discreta em 2023, após surgirem preocupações com direitos autorais.

O que torna essa acusação ainda mais delicada é o contraste entre a imagem que a Apple cultivou ao longo dos anos e as ações apontadas no processo.

A empresa sempre se posicionou como defensora da privacidade e do controle de dados, adotando políticas rígidas de proteção aos usuários.

Porém, se confirmadas as alegações, isso levantaria dúvidas sobre se esses padrões éticos também foram seguidos na formação de seu sistema de inteligência artificial. Esse caso pode ter um impacto que vai muito além da Apple.

Grandes nomes da tecnologia, como OpenAI, Google e Meta, também têm sido questionadas de maneira parecida sobre o uso de obras com direitos autorais no treinamento de modelos de IA.

O diferencial da Apple, contudo, é que ela sempre se apresentou como uma empresa com valores mais elevados e regras mais rigorosas.

Por isso, a ação judicial não atinge apenas a empresa em si, mas também o valor simbólico de sua promessa de "privacidade em primeiro lugar".

Se os autores vencerem a causa, o resultado pode mudar a forma como as gigantes da tecnologia lidam com dados no desenvolvimento de novas inteligências artificiais.

Isso pode forçar o setor a adotar práticas mais transparentes, com uso exclusivo de conteúdo licenciado ou pago, criando um novo padrão ético e legal para o mercado.

Por enquanto, as acusações ainda não foram comprovadas. O processo está em fase inicial e a Apple não foi considerada culpada de nenhuma violação. Tudo ainda depende da investigação e do julgamento.

Até lá, resta saber se a empresa conseguirá manter sua reputação de defensora da privacidade enquanto mergulha de cabeça na corrida da inteligência artificial.