Moore Threads cresce no mercado chinês e passa a ser vista como "NVIDIA da China"

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A Moore Threads, que muita gente conhece por fabricar GPUs voltadas para jogos, está prestes a abrir capital em Xangai em uma operação gigantesca.

A movimentação chamou tanta atenção que a empresa passou a ser tratada por parte da mídia internacional como a "NVIDIA da China". Com o clima de euforia do IPO, bastante gente começou a descobrir quem é a Moore Threads só agora.

Mas quem acompanha o setor há mais tempo já sabe muito bem o que a fabricante chinesa fez até hoje — e o que ainda não conseguiu fazer.

Antes de entrar no histórico, vamos falar sobre a abertura de capital, que deve ser a maior da categoria no mercado chinês de GPUs.

As informações apontam que mais de 4.000 investidores individuais já entraram na subscrição da oferta, e o plano da empresa é levantar US$ 1,1 bilhão na STAR Market, braço tecnológico da bolsa de Xangai.

Com números tão grandes, não demorou para o assunto ganhar destaque em veículos do Ocidente. A CNBC chegou a chamar a empresa de "NVIDIA da China", relacionando o IPO ao movimento de Pequim para fortalecer sua independência na corrida dos chips de IA.

Moore Threads MTT S80 China

Mas, quando a gente olha para o lado técnico, o cenário é outro. Até agora, a Moore Threads não tem nenhum chip de IA sólido apresentado ao público — ao menos nada que mostre competitividade real — e, apesar dos rumores sobre um projeto em 7nm, isso ainda não saiu do papel.

O que a empresa realmente possui é um catálogo relativamente amplo de GPUs para consumo e uso profissional. Entre os modelos voltados para o público geral estão as MTT S80 e MTT S90 — algo parecido com o papel das linhas GTX e RTX da NVIDIA.

Já para aplicações profissionais, entram GPUs como a MTT S4000 e a MTT X300, que são as que a empresa divulga oficialmente. Se existe um chip focado em IA sendo desenvolvido, ele ainda não apareceu entre os produtos públicos.

EspecificaçãoMTT S50MTT S80MTT S90
Arquitetura / Núcleos2.048 núcleos MUSA4.096 núcleos MUSANão divulgado
Compute FP32~5,2 TFLOPS~14,4 TFLOPSNão divulgado (rumores: maior que RTX 4060)
VRAM e Memória8 GB GDDR6, 256-bit16 GB GDDR6, 256-bitNão divulgado
Largura de Banda~448 GB/s448 GB/sNão divulgado
Interface PCIePCIe 3.0/4.0 ×16 (varia)PCIe 5.0 ×16Não divulgado
Consumo (TDP)85 W255 WNão divulgado
Saídas de VídeoHDMI + DP ×2, até 8KMulti-display, até 8KNão divulgado
Codecs de VídeoAV1, H.264, H.265AV1, H.264, H.265, VP9Não divulgado
FormatoSingle-slotDual-slotProvável dual-slot
Público-AlvoGPU de entradaGPU intermediária / profissionalGPU topo de linha (rumores)

E o desempenho? Os números não empolgam na prática

Ao longo dos últimos anos, vários testes independentes analisaram modelos da empresa. Mesmo assim, seria justo dizer que a Moore Threads ainda não conseguiu entregar resultados animadores na prática, mesmo quando as especificações parecem boas no papel.

Um exemplo é a MTT S80. Ela traz 4.096 núcleos MUSA, interface PCIe Gen 5 x16 e largura de banda de até 128 GB/s. A marca até foi a primeira a adotar PCIe Gen 5 nesse segmento.

Só que, na hora da verdade, o desempenho dela fica atrás até mesmo da GTX 1050 Ti, placa da NVIDIA lançada há quase dez anos. A sucessora, a MTT S90, apresenta saltos bem maiores e já chega perto da RTX 4060 em alguns benchmarks divulgados.

Mesmo com especificações parecidas entre as duas, a diferença real veio da evolução dos drivers, que eram bem ruins quando a fabricante começou a investir no mercado de GPUs para o público geral.

Linha profissional: onde a Moore Threads mais tenta mostrar serviço

No segmento profissional, o modelo que mais chama atenção é a MTT S4000, que aparece como a opção mais potente da empresa para atender data centers.

A placa vem com 48 GB de memória GDDR6 a 16 Gbps, somando 768 GB/s de largura de banda, e utiliza o MTLink 1.0, um tipo de conexão que possibilita o uso de várias GPUs juntas — algo parecido com o NVLINK da NVIDIA. A empresa informa números como:

  • 25 TFLOPs em FP32
  • 50 TFLOPs em TF32
  • 100 TFLOPs em FP16/BF16
  • 200 TOPS em INT8

MTT S4000

A Moore Threads também vende o KUAE, um sistema inspirado no NVIDIA DGX, com oito S4000 trabalhando lado a lado.

Segundo a empresa, o sistema pode ser expandido até mil unidades da S4000, o que abriria espaço para modelos com bilhões de parâmetros.

EspecificaçãoMTT S4000MTT X300
Arquitetura3ª geração MUSA2ª geração MUSA
Núcleos GPUNão divulgado4.096 núcleos MUSA
Desempenho FP32~25 TFLOPS14,4 TFLOPS
Performance Tensor / IA50 TFLOPS TF32, 100 TFLOPS FP16/BF16, 200 TOPS INT8Não especificado
Capacidade de VRAM48 GB GDDR616 GB GDDR6
Largura de Banda768 GB/s448 GB/s
Velocidade da Memória16 GbpsNão especificado
Tipo de MemóriaGDDR6GDDR6
Interface PCIePCIe Gen5 ×16PCIe Gen5 ×16
Suporte Multi-GPUInterconexão MTLinkNão especificado
Saídas de Vídeo4× saídas (suporta 8K)Até 4 saídas (suporta 8K)
Recursos de Vídeo96 streams 1080p, codificação/decodificação 8KCodificação/decodificação profissional
TDPNão especificado~255 W
Público-AlvoIA, HPC, Data Center, inferência de LLMWorkstation / gráficos profissionais
Recursos ExtrasEscalabilidade multi-GPU, alta VRAM, aceleração de IASuporte multi-arquitetura (x86, ARM, LoongArch)

Por que a comparação com a NVIDIA não faz sentido — ao menos por enquanto

Todas essas informações vêm de fontes públicas e, como dados de computação na China costumam aparecer de forma desencontrada, tratei apenas das especificações divulgadas diretamente pela empresa.

Com base nisso, fica evidente que a Moore Threads ainda não oferece um conjunto sólido de software e hardware capaz de colocá-la como rival direta da NVIDIA — algo bem distante, principalmente no terreno de IA.

O grande interesse no IPO faz sentido dentro do atual movimento chinês de investir pesado em soluções próprias. Empresas como BirenTech, MetaX, Cambricon e a própria Moore Threads têm recebido atenção enorme do público investidor, mesmo que isso não reflita o nível de maturidade tecnológica de cada uma.

A oferta em Xangai, sem dúvida, deve ajudar a empresa a aumentar sua capacidade de pesquisa e produção. Mas, por enquanto, a Moore Threads segue limitada ao mercado de GPUs para consumo e a alguns modelos profissionais, ainda longe de competir de igual para igual com os gigantes da IA.

Romário Leite
Fundador do TecFoco. Atua na área de tecnologia há mais de 10 anos, com rotina constante de criação de conteúdo, análise técnica e desenvolvimento de código. Tem ampla experiência com linguagens de programação, sistemas e jogos. Estudou nas universidades UNIPÊ e FIS, tendo passagem também pela UFPB e UEPB. Hoje, usa todo seu conhecimento e experiência para produzir conteúdo focado em tecnologia.