Intel pode se tornar alternativa à TSMC em cenário de crise, diz especialista

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A Intel começou a funcionar como uma espécie de "plano de seguro" para as gigantes americanas de chips que não possuem fábricas próprias — como Apple, NVIDIA, AMD e Qualcomm — diante dos riscos geopolíticos e de fornecimento relacionados à dependência da TSMC, a principal fabricante de semicondutores do mundo, de acordo com o analista Ben Bajarin.

"Você não precisa dela, até o momento em que precisa", disse Bajarin durante um podcast no Stratechery (via Ray Wang), ao comentar se a Intel poderia realmente substituir a TSMC em caso de emergência.

Nos últimos anos, a Intel passou por uma grande transformação dentro da indústria de chips. A empresa, tradicionalmente focada em fabricar seus próprios processadores, tem investido pesado em se posicionar como uma produtora de chips avançados nos Estados Unidos.

Esse movimento ganhou força com as políticas da administração Trump, que incentivaram a produção nacional de semicondutores e atraíram gigantes como a TSMC a investirem em solo americano.

Ainda assim, há dúvidas sobre qual é o verdadeiro papel da Intel no novo cenário da indústria de chips dos EUA. Segundo Bajarin, o simples fato de a Intel existir já serve como um tipo de apólice de seguro para as empresas americanas sem fábricas.

Isso porque, em condições normais, Apple, AMD, NVIDIA e outras preferem recorrer à TSMC, já que ela oferece processos de fabricação mais maduros, com rendimento e eficiência superiores.

Porém, em um contexto de crise — como um conflito geopolítico envolvendo Taiwan —, ter a Intel como alternativa se tornaria essencial.

Atualmente, Taiwan é responsável por mais de 90% da produção mundial de chips avançados, segundo o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick.

A TSMC domina grande parte desse volume. Isso significa que, se houver qualquer instabilidade envolvendo Taiwan, o mundo pode enfrentar uma escassez grave de semicondutores de ponta.

O grande desafio é entender se a Intel tem condições de assumir esse papel de alternativa viável à TSMC. Antes disso, temos que olhar como a própria TSMC está tentando minimizar os riscos de interrupção no fornecimento.

A empresa vem ampliando suas operações nos Estados Unidos, adiantando processos de fabricação de última geração, como o nó de 2 nanômetros (2nm), e aumentando seus investimentos globais para cerca de US$ 300 bilhões.

Essa expansão indica que os EUA estão se consolidando como uma segunda base de produção da companhia, reduzindo a dependência exclusiva de Taiwan.

Mesmo assim, transferir parte da produção do Oriente para o Ocidente não é algo que acontece do dia para a noite. Trata-se de um processo que leva anos e exige grande apoio político e financeiro.

O governo americano, inclusive, já pressionou Taiwan para que metade da produção de chips destinados aos EUA seja feita em território americano, o que reforça o esforço de descentralização.

Do lado da Intel, para que ela se torne de fato uma alternativa concreta à TSMC, será preciso mostrar que suas fábricas podem oferecer serviços de fundição (foundry) com o mesmo nível de qualidade, rendimento e custo competitivo.

Isso depende diretamente do sucesso dos novos nós de fabricação da empresa, como o Intel 18A e o Intel 14A, que devem ser decisivos nos próximos anos.

A atual liderança da Intel tem demonstrado claramente a intenção de acelerar o crescimento do negócio de foundries e conquistar clientes externos.

Porém, segundo especialistas como Jim Keller, ainda há um longo caminho pela frente para que a companhia alcance o mesmo patamar da TSMC — tanto em escala quanto em eficiência produtiva.

No fim das contas, o ponto de Bajarin é simples, mas poderoso. Enquanto tudo vai bem, as empresas americanas de chips não sentem necessidade de depender da Intel.

Mas, se algo afetar a TSMC, será a Intel quem garantirá que a produção não pare. Assim como um seguro, ninguém quer usar — mas todos precisam ter.